Wednesday, November 29, 2006

A musicalidade caruaruense como forma de expressão cultural: movimento alternativo, Rock

Introdução

Caruaru é reconhecida nacionalmente como celeiro artístico e cultural, principalmente em relação a música, recebendo o título de Capital do Forró. A musicalidade está presente em diversos aspectos da cultura caruaruense e de fato o forró é o gênero musical mais apreciado na cidade, porém não é o único, muitos outros estilos são produzidos, hip hop, samba, blues, rock e etc. mesmo não tendo um público tão extenso e tanto espaço para divulgação, existem e conseguem se manter, apesar das dificuldades, sempre produzindo e se renovando.
Neste trabalho, escolhemos rock como forma expressão cultural em Caruaru. Escolhemos o Rock que dentre os movimentos alternativos, é o que tem maior expressão e variedade. Este trabalho vai abordar os principais grupos ou tribos, lembrando que o rock tem várias sub-divisões estilistas como por exemplo: Rock and Roll, heavy metal, deathe metal, black metal, punk, gótico, grunge, hard core, hard rock, new metal e etc., suas inter-relações, a identidade regional dos grupos, assim como o processo de criação musical.


Conceitos utilizados

A música como forma de expressão, como linguagem, como forma de interpretar a realidade e expor sua visão, ou apenas como diversão, o fato é quem em Caruaru a música sempre esteve muito presente, é fácil notar isso, em cada bairro da cidade pode-se encontrar duas ou três bandas no mínimo, o que demonstra a tendência musical da população e que a musica também é uma forma de linguagem, tem seus próprios mecanismos de funcionamento embora diferentes da linguagem verbal. Seus signos (ou seja, a unidade som, representada através de tons organizados em escalas), não são dotados de significação fixa, os significados tirados das músicas dependem basicamente de dois fatores, a articulação do som (tonalidade da música, ritmo, pausas, altura, timbre) e do fator psicológico e individual dos ouvintes.
Por essas razões a música deve ser encarada como linguagem e expressão cultura, não é apenas tradicionalismo é o cotidiano dos indivíduos sendo constantemente reformado por causa das influencias musicais.
O rock embora sendo um gênero estrangeiro carrega em Caruaru, seus próprios traços, e sua própria cara, e dentre as principais bandas da cidade nota-se a preocupação em retratar o cotidiano, a realidade social e seus problemas, assim como tradições regionais.


Criando música e trabalhando com música em Caruaru

Fazer música está longe de ser uma coisa fácil, mesmo em uma cidade como Caruaru, onde a musicalidade transborda, fazer música dá trabalho, é preciso dedicação, concentração, custa dinheiro, dinheiro que muitas vezes não existe. A maioria dos músicos de Caruaru durante a semana tem seus empregos, muitos estudam e trabalham, e o tempo tem que ser dividido entre banda e emprego, escola ou faculdade e a própria vida do individuo, que a pesar das dificuldades continua tocando, estudando, ensaiando, correndo atrás, cavando seu espaço, se sustentando como pode, alguns são chefes de família, trabalham como professores, designers, com comércio, em empresas, tocam em orquestras, eventos particulares como casamentos, bailes... o próprio ato de produzir música já é um trabalho. Uma banda ensaia no mínimo uma vez por semana, e tem que continuar ensaiando sempre, para se aperfeiçoar, se entrosar e buscar as oportunidades.
Geralmente uma banda começa como cover (toca as músicas de bandas já famosas), para só depois quando estiver mais conhecida, tocar suas próprias músicas, ou tocar composições próprias as vezes até mesmo os dois.
O processo começa meio que por acaso, amigos com influencias e gostos parecidos, e que tocam ou tem vontade de aprender a tocar algum instrumento, se reúnem e decidem montar uma banda de garagem, o próximo passo é encontrar os outros músicos, quando falamos de rock, o básico que uma banda deve ter é: uma bateria, uma guitarra e um contra-baixo, e claro o vocalista que pode ao mesmo tempo tocar algum instrumento, outros arranjos instrumentais são, duas guitarras, um baixo, uma bateria, também pode haver teclado, percussão, metais e até mesmo uma terceira guitarra, tudo dependendo da proposta e do estilo da banda.
A expressão banda de garagem embora ainda seja usada não reflete exatamente a realidade, no Brasil instrumentos musicais ainda são caros, e quando o assunto é bateria, as mais baratas estão na maioria das vezes fora do alcance dos novos músicos, de modo que o mais comum e viável é alugar um estúdio, hoje eles existem em quantidade razoável na cidade, por uma média de R$20,00 as bandas podem usufruir de uma espaço equipado para atender suas necessidades, geralmente os estúdios tem bateria própria, caixas, amplificadores, microfones mesas de som, cabos e etc. guitarras e outros instrumentos bem como acessórios como pedais de efeito, processadores digitais e até mesmo pratos de ataque devem ser levados pela banda, alguns estúdios alugam os pratos também mas o aluguel é por fora (lembrando que os pratos são os componentes mais caros da bateria). Logo é difícil encontrar uam banda que ainda se utilize de garagens para ensaiar.
Com repertório escolhido próprio ou cover, vem uma etapa de preparação antes de entrar em estúdio, tempo esse em que os músicos aprendem individualmente as músicas que vão tocar, a banda entra em estúdio pra fazer seus arranjos, testes, versões e adquirir inteiração.
As composições podem ser feitas em grupo ou por um integrante que escreve as canções e mostra aos outros, que durantes os ensaios colocam os arranjos e fazem as modificações necessárias. Há também as chamadas jan’s sessions termo que designa uma seção de improviso, um dos integrantes começa tocando algum riff ou groove e os outros o acompanham criando a música de forma bem espontânea, restando colocar apenas a letra se for essa a idéia.
Em geral a rotina de ensaios é considera por todos como uma experiência muito divertida e estimulante, onde as amizades são aprofundadas e os indivíduos evoluem como tal e também como grupo, mesmo quando surgem atritos geralmente esses são contornados, mas acontece de um ou outro membro da banda ser afastado por não atender as necessidades do grupo, ou por conflitos internos.

A música hoje

Atualmente a primeira característica a respeito da musicalidade caruaruense, é sua imensa variedade e versatilidade, não apenas no âmbito alternativo, mas de modo geral, a musicalidade na cidade é muito vasta, há diversos grupos de diversos estilos diferentes trabalhando e buscando seu espaço, produzindo cultura, e cultura de Caruaru. Como explica Ivan Marcio, vocalista da Banda Sangue de Barro, importante grupo da Cidade.

"Não é de hoje que a gente percebe uma variedade muito grande de pensamentos na música caruaruense, (...) hoje a gente tem bandas de Hard Core, tem banda de pífano, tem banda de metal, trash, death, cada uma no seu estilo, cada uma com a sua idéia, com a sua consciência. Tem blues em Caruaru e vários e vários outros estilos. Hoje eu acho que Caruaru é um dos lugares que se produz mais música, e as pessoas estão afim de fazer música, muitas bandas novas surgindo, muita gente boa. (...)."

Essa variedade é apontada pela maioria das pessoas como a grande sacada da musicalidade da cidade, muitos estilos diferentes convivendo dentro de um mesmo espaço geográfico, se expressando de forma de diferente, transformando a sociedade mesmo que apenas no seu bairro, ou grupo social.


Espaço alternativo

É preciso pensar o que é alternativo uma vez que o tema de nossa pesquisa é o movimento alternativo: Rock. Alternativo é aquilo que não é comum, é uma opção a mais, nas palavras de Ivan Marcio:

"O que seria o alternativo? Eu acho que seriam idéias que buscam trazer um pensamento que fuja do comum e traga as pessoas a refletirem por ângulos diferentes sobre a mesma coisa, eu acho que a alternativa ta ai, fazer com que as pessoas pensem sobre a mesma coisa de várias maneiras diferentes."

Falando em música podemos dizer que em Caruaru o comum é o forró, e não só ele, também o forró estilizado que para alguns é um ritmo novo, e, sempre um estilo variante que é melhor descrito como a música da moda. O alternativo é aquele que tem uma proposta diferente, não apenas o rock, em Caruaru se produz samba, hip hop, música gospel, até mesmo blues, dentre outros estilos musicais alternativos.
No entanto uma das maiores queixas do público underground (outro termo para o alternativo), é a falta de espaço para mostrar o trabalho, a falta de público, estrutura, apoio. Há em Caruaru atualmente apenas dois grandes festivais de Rock que ocorrem anualmente e que nos últimos anos tem cedido espaço para o popular, medida necessária para atrair mais público. Essa é uma das características do underground, a informalidade, tudo acontece realmente no sub-mundo, a grande massa não tem acesso ao que é produzido dentro da cidade, mesmo assim Ivan Marcio acredita que o espaço existe, e que este deve ser mantido e ampliado pelo público interessado.

"(...) a coisa existe! Os espaços a gente vai cavando. Se eu toco com a minha banda eu tenho que fazer, eu não vou ficar esperando que ninguém vá me chamar pra tocar num evento... eu tenho que fazer p* o underground sempre viveu por si só, num tem que esperar que, ah esse é o bunitin que vai abençoar, porque isso não vai rolar, num vai rolar, cada um tem que fazer a sua batalha e crescer junto, sem querer botar ninguém pra trás, ‘pô vou fazer meu show hoje, to com um show marcado pra semana que vem e tal e fulaninho vai marcar um, ai, pô fulaninho, num vamos fazer na mesma data não que a gente sabe que os públicos aqui em Caruaru são os mesmos, vamo ver ai essas datas, como é que a gente se ajeita ou então vamos fazer uma parada juntos’ ai cresce a idéia de repente saca? O espaço alternativo tem que ser feito pela própria rapazeada... e ai a galera começa (...) porque ninguém vá pensando que ‘ah eu vou tocar minha guitarra e vô ser artista, num rola bicho, é muita ralação pô é trabalho pesado bicho. (...) o espaço alternativo em Caruaru tem que ser visto com bons olhos por quem tem grana e pode ajudar e deve ser muito bem cuidado por quem faz parte dele, por quem é alternativo, e quem quer ter um espaço pra tocar, pra expressar sua arte da maneira que seja."

O público é também outro aspecto muito importante em relação a música, o público conhece e valoriza o que é produzidos na cidade? Ou ele não tem acesso a esse material? A bandas menores, não tem muita repercussão, na cidade se apresentam às vezes, nos raros evento paralelos e informais que ocorrem, sem remuneração, até uma banda ficar conhecida, é gasto muito tempo e dedicação para mostrar suas músicas pouco a pouco. Essa dificuldade de se atingir o público ocorre por uma desvalorização do que é produzido por gente daqui? Não. Talvez em algum outro lugar haja esse preconceito com o que é produzido dentro de seu próprio espaço, mas não na cidade, uma das características do movimento alternativo em Caruaru (em sua maioria), é a valorização do regional, do que é feito pelas pessoas daqui. O problema esta na fraca divulgação da nossa música. Nas palavras de Ivan Marcio.

"O público? O público aqui é massa velho, agora é porque não tem muita oportunidade assim de se conhecer, pra grande maioria das pessoas não tem... o pessoal gosta de ouvir rádio, e na rádio aqui, pouco toca da música que é feita aqui, saca? Eu acho que se o pessoal das rádios, o pessoal das empresas bem pensassem... as próprias rádios fariam a música de Caruaru tocar com mais freqüência, porque gera emprego, gera trabalho, sabe? Vai ter um evento, vai ter que contratar galera pra vender cerveja, e aquela galera vai ta trabalhando e ganhando o seu, e sendo feito pelas pessoas daqui a coisa sai financeiramente pra quem produz bem melhor, porque não tem que pagar hospedagem não tem que pagar transporte pra organizar um evento, ah vamos fazer a música tocar, bota ai na rádio pro pessoal ter acesso ‘pô eu conheço essa música de determinado artista, e vai ter um show dele e eu vou’. Mas não é assim, a gente tem feito aqui na base do boca-a-boca, um ouviu e tal, e já passou o cd pra outro que já gostou e já ‘ah no próximo show eu vou’ (...) num tem um apoio assim por parte da mídia, por parte da rádio mais, que não toca muito. A tv, o pessoal sempre ta divulgando o que é que está acontecendo, na rádios já tem alguns programas, mas tem que botar na programação! Diariamente, não precisa ser um programa especifico pra tocar Valdir Santos ou Heberte Lucena ou Sangue de Barro tem que botar pra tocar! Botar o IDR pra tocar, The Bluz, música de Caruaru, imagina na hora do almoço você liga o rádio ta tocando The Bluz? Olha que coisa maravilhosa, você ouvir um blues na hora do almoço? Num rola bicho (risos). Mas o público é massa, o público só precisa de mais um pouco de informação."


Identidade regional
Uma pergunta surge quando falamos de rock como expressão cultural de Caruaru, cidade do agreste de Pernambuco. O rock é um estilo tradicionalmente americano e inglês, não surgiu no Brasil muito menos no Nordeste, atento a este fato e ao fato de que as maiores bandas são estrangeiras a pergunta é, o rock de Caruaru tem a cara, a expressão de Caruaru?
Ivan Márcio, acredita que apesar das influencias internacionais, das letras em idiomas que muitas vezes as bandas não conhecem, mas cantam as musicas, os covers, sempre que alguém estiver interpretando uma música, inevitavelmente ela sentirá algo em comum com seu cotidiano.

"Eu acho que não é preciso pra se ter a cara de Caruaru, eu tenha que ta sei lá, ta tocando uma zabumba no meio da minha música, não é necessário isso cara, a gente bota no Sangue de Barro porque é uma idéia que a gente já teve, é uma coisa que a gente curte, que a gente tinha que fazer e a gente faz! Num é porque ‘não, é o oportunismo vai dar certo, ou porque surgiu uma banda em Recife que misturava...’ não, as idéias são praticamente da mesma época, a gente é um pouco mais novo, e não é nenhuma novidade, Alceu Valença já misturava ritmos né? Os mutantes misturaram ritmos, The Doors misturou ritmos, saca? É uma tendência natural das coisas. Ai a coisa de beber do estrangeiro é uma coisa interessante velho, é interessante porque se as pessoas vão ficar nessa a vida inteira, só de beber do estrangeiro, é porque a idéia da pessoa é aquilo mermo, e agente tem mais é que respeitar (...), sabe num tem que dá uma característica, num tem não, cada um tem a idéia que quer, executa da maneira que quer, tem que ter liberdade musical, ai sim se o cara vai cantar porradona e tal e ta cantando ali e tem um sei lá, vai ter alguma coisa que ela vai identificar do cotidiano dele, porque o cotidiano dele é isso aqui, a não ser que o cara vá morar fora e tal, (...) e falar o que acontece na vida do cara e se o cara quiser criar personagens, vai ter a cara, faz parte da história da música, os caras são daqui os caras vivem aqui."

Estilo e comportamento.

Umas das coisas que permite identificar um grupo social, é a forma de comportamento e a forma de se vestir dos diversos grupos sociais, ou seja, detalhes que estão intimamente ligados a sua cultura. A cultura do rock, em seu contexto original, sempre foi de contraposição, revolta, revolução, rebeldia, mas ao contrário do que muitos pensam não uma rebeldia sem causa, com tempo o estilo foi se desenvolvendo, se modificando e ficando cada vez mais complexo, novas subdivisões, sub-culturas inteiras surgindo com base na música, podemos citar o punk, movimento dos ano 80 reacionário ao hard Rock e seus excessos, que também é rock. Na época em que surge o punk a musica estava em uma situação que impossibilitava o surgimento de novas bandas. Só havia virtuosos, era preciso estudar muito para tocar. A sociedade jovem da época queria também tocar, mas até adquirir técnica para tocar do jeito que os outros tocavam seria preciso muito tempo, tempo demais. Assim surgiram bandas como o Ramones e Sex Pistols, consideradas as percussoras do punk. Músicas simples com três ou quatro acordes, muita distorção, som saturado, vocal desesperado e nem sempre afinado, letras de protesto social ou simples desabafo. Essa é a característica do punk dos anos 80, hoje em dia o que se entende por punk é um outro estilo, ainda com suas bases na revolta e na simplicidade, mas hoje o punk é bem mais elaborado, sofreu influencias de outros estilos e seguimentos, o surgimento do skate rock, do surf rock e até mesmo do hard core.
Outro estilo que está sempre mudando e é quase impossível de definir é o gótico, filho direto do punk, surgiu no período pós punk, como um estilo muito mais introspectivo, sombrio e sobrenatural, com batida cadenciada e influencia de música eletrônica, e claro da própria cultura gótica, do ultra romantismo, das lendas, hoje o gótico é muito variado, mesclou-se com o heave metal e surgiu o gothic metal, o doom metal, que não é gótico, mas compartilha de muitas características em comum.
Conhecer esse processo de surgimento e evolução dos estilos é importante pra se identificar os traços culturais dos integrantes da sub-cultura, lembrando que todos esses processos ocorreram nos Estados Unidos ou Inglaterra. No Brasil todo esse movimento chegou depois e com modificações inerente a nossa própria cultura, no entanto as bases continuam as mesmas, o rock no Brasil vem desde antes dos Mutantes, o punk começou a fazer sucesso com bandas como Legião Urbana e Barão Vermelho, e hoje a variedade é imensa, o comportamento das pessoas muda, a geração anterior foi profundamente influencia da por essas musicas, o comportamento mudou, a cultura, os valores se transformaram, em todo o país.
Hoje por influencia da mídia essas mudanças são menos visíveis, porque há uma multiculturalização via tv e Internet que gera uma diversidade muito grande de pensamentos dentro de uma mesmo grupo, isso aliado a própria cultura regional do individuo.
Em Caruaru, o individuo que curte rock em geral não é facilmente notado por seu jeito de se vestir por exemplo, diferente dos anos 80. hoje se usam muitas cores e estilos diferentes, há uma descontração e uma busca pelo conforto maior. Porém ainda se vê nas ruas garotos com camisas de banda, com tatuagens, cabelos compridos... que hoje não necessariamente identifica o individuo em um grupo especifico, muitas pessoas usam tatuagem independente da música que ouvem.
No entanto alguns nichos permanecem mais tradicionais, os metaleiros por exemplo, é fácil identificá-los na multidão, estão sempre de preto, usando botas, acessórios como correntes, cabelos longos. Essa forma de se vestir não é por acaso. O metal surge numa época e lugar de muita pressão sobre as pessoas, fato que deu a característica darck e sobrenatural ao estilo, o preto que em muitas culturas é uma cor que representa o oculto, o sobrenatural não é o preferido a toa.
Se na forma de vestir as várias influencias podem confundir os grupos, tudo muda no comportamento, há em quem curte rock um constante descontentamento em relação a sociedade, uma mistura de preconceito sofrido, com uma condição financeira não muito favorável, gera indivíduos em geral muito críticos, embora haja as exceções, o pensamento geralmente esquerdista, de valorização do regional, da busca por liberdade e igualdade, a linguagem mais solta e informal com suas gírias e neologismos essas são as idéias gerais do movimento alternativo em Caruaru, essa é a cultura alternativa de Caruaru
Outro ponto importante na cultura alternativa, que gera muita controvérsia nas pessoas que não conhecem é a chama roda punk, ou roda de hard core. A roda pode ser vista como a ‘dança’ dos shows, e consiste no seguinte: parte do público corre em um circulo acompanhando a música, dando socos e chutes em todos os que estão participando da roda, não em pessoas que estão fora, que fique claro, também não é obrigatório participar, roda quem quer rodar. A pesar de parecer uma pratica violenta a principio, na verdade o discurso da roda é outro, é o da paz, é uma forma de liberdade, de liberar as tenções do dia a dia, na roda todo mundo bate e todo mundo leva, mas não há sentimentos negativos pessoais envolvidos, é tudo uma brincadeira, e embora muita gente pense o contrário a intensidade dos ‘golpes’ não é tão alta, é mais uma brincadeira, e quando ágüem pega mais pesado e acerta outra pessoa, o comum é os indivíduos se abraçarem e continuarem como se não tivesse acontecido nada, não há rancor, há um sentimento coletivo, quando alguém tropeça e cai por exemplo, quem está perto para na hora para e vai ajudar a levantar, a roda nessa hora para até que quem caiu levante.
Obviamente há casos de brigas ocasionais, depois de uma certa quantidade de bebida e também ao fato de que muitas vezes pessoas que não entendem o funcionamento do jogo entram muitas vezes só arranjar confusão.


publico em show da Sangue de Barro
Entrevistas

Acauã Borges do Nascimento, guitarrista.

Anderson Henrique: como você vê os movimentos alternativos dentro da cidade?
Acauã Borges do Nascimento: positivamente, movimentos alternativos mostram a vontade de renovação cultural do povo.

Anderson: Da para notar dois grupos principais: metaleiros e punks (ou neo punks) você concorda com isso?
Acauã: Não, de fato existe um grupo de metaleiros, mas punks não existem mais, devido a definição de punks seria impossível que existissem.

Anderson: no período em que você tocou, como era fazer música, em relação a tempo, dinheiro, cotidiano de ensaios?
Acauã: Para tocar sempre tem que se sacrificar um pouco, se organizar com relação a horários, trabalho, quanto dinheiro, os estúdios de Caruaru são bem razoáveis.

Anderson: e quanto o funcionamento de ensaios?
Acauã: Não tenho do que reclamar, ruim é onde tocar, não tem onde tocar, não tem show, dois festivais grandes apenas, poucos festivais alternativos também.

Anderson: Então você acha que não há espaço para música alternativa?
Acauã: Sem casas onde se possa tocar, quase não existe.

Anderson: você acha que as bandas é que tem que criar seu próprio espaço?
Acauã: uma casa de show não é uma coisa tão simples, existiu o bar do rock, mas não vingou, era pequeno, tinha que se pagar pra subir, o pessoal não teve consciência também.

Anderson: Você acha que existe um certo comodismo entre as bandas principalmente as pequenas?
Acauã: Sim, em geral é feito por adolescentes, o nível de consciência não é tão alto. Pouca gente, pouca informação, pouca consciência.

Anderson: Se as bandas procurassem espaço, ou mesmo se unissem pra criar esse espaço o movimento cresceria?
Acauã: Sim, mas se houvesse mais organização, todos ganhariam de certo, porém deve-se entender também que a cidade é pequena
e que não há como acontecer muita coisa por hora, mas eu acho que seria bem possível ter mais movimentação do que atualmente.

Anderson: que tipo de música você mais curte?
Acauã: jazz

Anderson: você trabalha?
Acauã: trabalho


Hugo Silva Pereira, estudante de bateria.

Anderson: O que você acha do movimento alternativo em Caruaru?
Hugo Silva Pereira: Acho legal, meio que serve para manter o equilíbrio.

Anderson: Você como estudante de música, como acha que é fazer música na cidade?
Hugo: É legal, o difícil é os outros te entenderem, te chamam de doido, diz que a letra não agrada.

Anderson: Como você define seu comportamento, em termos de cultura, forma de vestir, crenças?
Hugo: Padrão, normal, nada de monstruoso, só os penteados.


Jamessom Luiz da Silva Junior , guitarrista, banda: Cara Sem Assunto

Anderson: Qual tipo de música você mais gosta?
Jamessom Luiz da Silva Junior: Rock, mas eu sou um cara que gosta de todos os estilos, desde que a música seja bem trabalhada.

Anderson: O que você acha a respeito dos movimentos alternativos de Caruaru?
Jamessom: Acho que poderia melhorar pela cultura que temos em nossa terra não podemos ficar só no forró temos que dar lugar aos outros estilos

Anderson: Como é fazer música em Caruaru?
Jamessom: É legal por uma parte e ruim por outra, porque Caruaru é uma cidade que da para mostrar as músicas para um monte de gente, mas a parte ruim é que quase ninguém da ouvidos para nossas músicas, ficam naquela coisa de forró e das modas que aparecem e acabam não prestando atenção no trabalho produzido.

Anderson: Você acha que se as rádios mostrassem mais as músicas feitas aqui, as pessoas procurariam mais?
Jamessom: Com certeza, as rádios deveriam dar mais espaço para o pessoal que está começando agora na carreira musical, só assim ficaria mas fácil das pessoas ouvirem e pedirem as músicas nos programas musicais.

Anderson: Dentro do alternativo, da para ver dois grupos bem expressivos, quem curte Metal, Gótico, death e o pessoal que prefere punck e hardcore, você como individuo vê isso?
Jamessom: Não porque sempre esse pessoal estão juntos em shows, então fica difícil diferenciar a galera que curte os estilos.

Anderson: Qual o som que a maioria curte mais, maioria entre os alternativos?
Jamessom: Acho que hardcore, não tenho bem certeza mas uma boa parte da galera alternativa assim como eu prefere o hardcore.

Anderson: Fale um pouco da experiência de fazer música, normalmente como acontece?
Jamessom: É muito legal fazer música, é uma maneira de expressar meus sentimentos e de extravasa todo o estresse do dia-a-dia. Queria poder dedicar todo meu tempo em ensaios e shows, mas como não posso, procuro reservar uma parte do tempo para ensaiar com meus amigos que sem eles as músicas não seriam nada e a respeito de como acontece a inspiração para escrever, bom, surge do nada, é como se as palavras fossem parar no papel sem um motivo específico.

Anderson: você já se apresentou em público?
Jamessom: Sim, é uma experiência muito boa a galera vai ao delírio quando a música tocada marca época ou coisa parecida.

Anderson: E a estrutura para apresentações disponíveis na cidade são adequadas, para bandas pequenas ou iniciantes?
Jamessom: são para bandas iniciantes que o público não passa das mil pessoas, da parra fazer uns shows legais.

Anderson: E quanto ao espaço para bandas alternativas, existe ou as bandas precisam cavar seu próprio espaço?
Jamessom: O espaço que existe é muito pequeno, as bandas tem que fazer seu próprio espaço, Caruaru a respeito de espaço para música alternativa precisa melhorar muito.


Capitulo descritivo

Foram feitas pesquisa de campo, observação, participação, entrevistas, e pesquisa em sites sobre estilos musicais, além da utilização de conhecimento próprio.
A pesquisa de campo se baseou na observação dos grupos, não apenas no período de pesquisa, mas desde muito antes, já que o assunto sempre foi de meu interesse, participei de ensaios observando seu funcionamento, fiz entrevistas com Ivan Marcio vocalista de uma banda de destaque na cidade, que é a Sangue de Barro, banda que mistura forró tradicional e baião ao rock e industrial, com outros músicos e pessoas do publico. além de usar minhas próprias experiências como músico.




Considerações finais

A conclusão que se tira a respeito do tema é de que a música em Caruaru é muito diversa, e que a pesar das influencias estrangeiras, as bases dos movimentos são as mesmas, o que faz com que o movimento alternativo na cidade tenha identificação com a cultura e o cotidiano da cidade, de uma forma diferente do comum, e segundo uma outra ótica.
Verifica-se também que há dificuldades em veicular o material produzido dentro da cidade, que o espaço deve ser criado por quem tem interesse nesse tipo de atração, ou seja, o publico e os próprios músicos.